Salvador em Conflito Verde: Expansão Urbana Ameaça Ecossistemas e Memória Ambiental

 Salvador em Conflito Verde: Expansão Urbana Ameaça Ecossistemas e Memória Ambiental


A capital baiana enfrenta um dilema ambiental que expõe as contradições entre desenvolvimento urbano e preservação da natureza. Nos últimos meses, episódios de desmatamento em áreas simbólicas de Salvador têm despertado protestos populares, críticas de ambientalistas e o acompanhamento cauteloso do Ministério Público da Bahia.


 Pituaçu: Requalificação ou destruição velada?

No coração da cidade, o Parque Metropolitano de Pituaçu, um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica urbana do país, foi parcialmente transformado em um canteiro de obras. Máquinas pesadas abriram trilhas e derrubaram árvores como parte da requalificação iniciada em dezembro de 2024.


Segundo o Inema, o projeto inclui uma ciclovia de 15 km, pontos de apoio e reestruturação da área para lazer. O investimento ultrapassa R$ 25 milhões. No entanto, imagens divulgadas por moradores em junho de 2025 mostram a supressão de vegetação nativa, o que gerou alarme.


“É uma obra pensada para mobilidade ou um ataque à biodiversidade disfarçado de modernização?” questionou a bióloga Carla Nascimento, em entrevista à rádio Educadora.


A comunidade local cobra transparência: onde está o laudo técnico que justifica a remoção das árvores? Quais espécies estão sendo afetadas?


 Centro Histórico: árvores centenárias cortadas sem consulta pública

Outro caso emblemático ocorreu no Campo Grande, em janeiro de 2024, onde árvores centenárias foram cortadas para dar lugar à requalificação paisagística. Sem diálogo prévio com a população e sem apresentação de compensação ambiental clara, o episódio despertou uma onda de críticas nas redes e em coletivos ambientais.


“A gestão municipal trata o verde como obstáculo, não como patrimônio”, declarou a urbanista e professora da UFBA, Mariana Lopes.


Dados alarmantes: Salvador entre as capitais menos arborizadas do Brasil

O Censo do IBGE de 2022 revelou que 63,5% da população de Salvador vive em ruas sem árvores. É a segunda pior média entre as capitais brasileiras. O dado expõe um modelo de urbanização que negligencia a importância da arborização para a saúde pública, o microclima e a qualidade de vida.


O vereador Silvio Humberto (PSOL) cobrou do Executivo uma visão mais ampla de sustentabilidade:


“A prefeitura precisa superar a ideia de que plantar coqueiro na orla é política ambiental. É preciso reflorestar bairros inteiros, priorizar a sombra, o ar puro, o convívio.”


 Ministério Público sob alerta

Em dezembro de 2024, o Procurador-Geral de Justiça da Bahia afirmou que o Ministério Público acompanha de perto as ações da prefeitura relacionadas a áreas verdes. Há investigações em curso sobre desafetação de terrenos públicos e desmatamentos urbanos sem estudos de impacto social e ecológico.


“O que não pode haver é abuso. O que está sendo feito precisa seguir a legalidade e o interesse público”, reforçou o PGJ em entrevista ao portal BNews.


 Replantio como contrapeso?

A Secretaria de Sustentabilidade (Secis) anunciou projetos de replantio de 3.300 m² de restinga em praias como Pituaçu, Jaguaribe e Boca do Rio. A medida visa restaurar o ecossistema costeiro, mas especialistas consideram que é insuficiente diante da escala do desmatamento urbano que ocorre de forma silenciosa nos bairros e parques da cidade.


 Conclusão: Salvador precisa repensar sua relação com o verde

O modelo atual de “modernização” soteropolitana corre o risco de apagar a memória ecológica da cidade, sufocar bairros com ilhas de calor e comprometer a resiliência ambiental diante das mudanças climáticas.


A pergunta que ecoa entre moradores, especialistas e ativistas é simples, mas urgente:


“Vamos construir uma cidade para carros e concreto, ou para pessoas, árvores e futuro?”



Apuração independente. Vigilância cidadã. Futuro em pauta.

Notícia anterior
Carro bate em moto de entrega de gás na Av. Garibaldi e deixa o trânsito lento
Próxima notícia
Desgaste sem filtro: a Embasa e o desabastecimento que revolta a Bahia
upload\29062025165143.jpeg

Notícias relacionadas